terça-feira, 11 de setembro de 2007

DESILUDIDO


— Eu queria ser um pregador…
— Você?
— É…
— Como assim? Logo você? Um presbítero?
— Não. Um pregador. Desses de roupa…
Hein?
— É, um pregador, um botão, um clipe de papel. Alguma coisa muito simples, muito mundana, muito útil e muito sem valor. Ninguém compra um pregador, essas coisas vêm em montes porque não vale a pena vender a unidade…
— Continua.
— Então, eu queria ser um pregador. De madeira, com aquele ferrinho no meio. O mais baratinho, o mais ordinário. Uma dessas porrinhas que você usa pracaralho, mas não dá o menor valor.
— Estamos falando de mulher?
— De certa maneira. Um pregador não tem de lidar com rejeição. Ou você escolhe um pregador melhor para as roupas melhores e deixa os mais vagabundos para, sei lá, meias?
— Eu não penduro minha roupa.
— Imaginei. Mas um pregador não tem ambição, saca? E não dura muito…
— Estamos falando de amor?
— Também. Eu queria ser útil durante algum tempo. Quebrou, joga fora. Tem zilhões iguais. Não são difíceis de encontrar. E são versáteis.
— Meu, você precisa se tratar…
— Sim, nunca neguei. Mas faz sentido?
Faz. Só não faz bem.
Blimey!

http://thethirdnipple.com/kazi/Coltrane/archives/2006_12_01_coltrane_archive.html